Numa entrevista para o Le Monde, P. Bourdieu discute aquilo que ele chama a mão esquerda e a mão direita do estado, a primeira, refere-se às funções sociais do estado, do cuidado, do conforto e do bem-estar, a educação, os cuidados de saúde, a segurança social e pensões de um lado, pelo que à direita diz respeito, o orçamento de estado, as finanças e os impostos, a economia, a justiça e as forças armadas. À mão esquerda, tida como despesista, diz respeito o legado das lutas sociais do passado, e que como consequência nos trouxe a qualidade e nível de vida que hoje é comumente considerado no seio do continente europeu. Esta meditação desenvolve-se em redor da problemática do sofrimento, tema base de “A Miséria do Mundo”, outra obra sua. Para a base dos fenómenos em questão, confrontos e desacatos contastes nas escolas e subúrbios, alcoolismo e toxicodependência, desemprego de longa duração, depressão, entre outas, refere como principal responsável o progressivo recuo do papel do Estado em esferas que até há pouco tempo lhe incumbiam e que tinha a seu cargo, a habitação como bem público, assim como a rádio, a televisão, a escola e os hospitais públicos. Não suficiente, o governo socialista à época em França, liquidava a herança do estado-providência e simultaneamente difundia valores do interesse privado e individual. Perante esta situação é levado a defender uma maior envolvência dos intelectuais em todos os domínios da vida pública e em especial com a política, no sentido em que a discussão da política é a discussão da coisa pública, e que com os reiterados ataques de que tem sido alvo, ameaça extinguir o seu valor simbólico e deixar-se então desapossar do seu valor material, as condições de vida que o welfare state mostrou serem possíveis aos cidadãos da Europa, e destacadamente, franceses e britânicos. Os mass media assumem um papel importante em conjunto com os “especialistas” neste desmantelamento, pois são eles que difundem a cultura do ego e troçam dos valores que serviam de base aos actos e contribuições do estado. A crise social vivida é hoje senão um conflito entre herança social passada e presente. A mão direita não quer saber do que faz a mão esquerda do Estado, e em todo o caso, já não está disposta a pagar o preço correspondente.
quarta-feira, 18 de maio de 2011
sábado, 15 de janeiro de 2011
TRON, um legado
Longe estamos do outrora sonhado universo de Steven Lisberger, senhor a quem podemos atribuir a autoria do primeiro filme TRON (1982). A computação era então uma fantasia obscura distante de muitos e o Santo Graal para os mais ingénuos físicos. Estávamos no início dos anos 80 e esperava-se que a cada ano o poder do computador ultrapassasse à razão do dobro, tudo o que a sua história conseguira até então. Os mistérios que esta nova realidade escondiam sob minúsculos circuitos, e as imensas operações matemáticas que se davam em fracções de segundo, atiçavam o imaginário para uma nova geração que cresceu ao lado destes novos aparelhos, e que pareciam de tudo ser capazes.
domingo, 21 de novembro de 2010
o verdadeiro perigo
sábado, 14 de agosto de 2010
sinto-me um outsider
poderia dizer-se que sou gay por uma atracção que detenho, a atracção por homens.
quando confrontados com o meu vegetarianismo, muitos consideram que é um argumento corroborador da definição em questão, mas quando falo em ficção científica as sinápses começam a sobreaquecer, adiciono o software open-source e é mais fácil rotular-me como nerd, mas os nerds deviam gostar de computadores e ciência, e eu gostando de homens terei de ser necessariamente um geek virado. Que seja! Mas não tenho muita gente com quem me identifique, aliás, às vezes dou por mim com dificuldades de sociabilidade, o que põe em causa o meu estatuto de geek (nerd que socializa) acho que estou num limbo de personalidade, meio indefinível, meio incompatível, só me falta ouvir Sia e começar a colar mais em moda para passar a ser coisa alguma
segunda-feira, 12 de julho de 2010
suicídios e pseudo-moralidade
É fundamental para uma ponderada tomada decisão, que o seu exercício decorra em circunstâncias de plena liberdade de raciocínio, desprovida dos mais diversos preceitos de índole religiosa ou para-moral, pois só assim a virtude humana se revela naquilo que se reconhece como sendo o seu carácter ponderador e racional.
Remeto agora especificamente para o âmbito do suicídio, fenómeno de ferocidade reconhecida em todos os quadrantes da sociedade e para os quais, as mais perversas e conspurcadas bocas despejam ignomínias imundas, cobardes e ociosas. É de extraordinária importância compreender que tal fenómeno ocorre fruto do propósito e sucesso daqueles que convictos da razão dos seus pensamentos, descrevem com particular convicção e persuasão as fronteiras do certo e do errado tal verdade indubitável e de carácter universal. Deste modo, compreendemos que antes de mais, o escárnio encontra-se em jeito de benesse para os "legisladores morais" como meio de servir o seu propósito instrutivo com recurso a estes agentes pouco reflexivos e ainda menos compassivos, já que só estes seres desprovidos de cuidado em função do mal alheio seriam capazes de por seu turno, julgar e maldizer os propósitos que levariam a vítima a auto-suprimir-se antes desta o ter feito. Assim sendo, sujeita aos mesmos julgamentos, mas com os observados prejuízos para a pobre alma, ela esquiva-se da mesquinhez do social e das suas insinuações de uma forma eficaz. Este desejo de eficácia parece representar uma afirmação do suicidado em relação ao poder que este ainda detém sobre o decurso dos factos, desejo este que pode aprisionar mesmo o espírito mais férreo e vivaz sob fatais e propícias condições.